quarta-feira, 2 de março de 2016

Vida adulta sozinha

Desde sempre tive vontade de morar sozinha. As minhas Barbies sempre moravam sozinhas, tinham cozinhas super equipadas – figurativamente - recebiam amigos, faziam festas...tudo como uma preparação do que eu imaginava ser o futuro ideal. Com o tempo, adulta, morando com meus pais, me dizia que se um dia eu casasse, antes, teria que morar sozinha.

Não sei se isso é por ser filha única. No pouco tempo em que fiz terapia, não lembro de trazer à análise essa questão. Só sei que quando menos esperei: olha eu morando sozinha.

De repente eu estava em outra cidade, assinando contrato de aluguel, abrindo firma em cartório e dormindo de luz acesa para intimidar um possível, ladrão, maníaco ou tarado (ou alguém que fosse tudo isso) que pensasse em entrar em meu micro apartamento.

Minha cozinha está longe de ser mega equipada e não tenho amigos próximos para fazermos festas. Assisti ao Brit Award sem ninguém para fazer comentários, e alguns dias loto o meu snapchat de comentários ridículos, por não ter a quem fazê-los. Se o Padre pode, por que não eu?

Enfim...isso não é vida adulta sozinha . È vida adulta só.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Sejamos todos feministas

Se você já ouviu a música Flawless, da cantora Beyoncé, percebe que no meio da música super dançante, existe um discurso, também dito por uma voz feminina e, se entender inglês, também feminista.

Inspiração para a composição de Beyoncé, o discurso e a voz em questão, são da escritora nigeriana Chiamamanda Ngozi Adichie, 39, nascida em Abba - no estado de Anambra –  autora de 4 livros, além do recém publicado SEJAMOS TODOS FEMINISTAS, que chegou ao Brasil em 2015, através da editora Companhia das Letras.

Curto, com penas 63 páginas, o livro é a transcrição da apresentação de Chiamamanda no TEDxEuston em 2012 – TED, abreviação de Technology, Entertainment, Design; em português: Tecnologia, Entretenimento, Design, é um  evento que surgiu na década de 1990, e acontece em diversos países, propagando ideias que devem ser discutidas em grande escala.

Uma vez que o evento consiste em palestras rápidas e de fácil entendimento, o livro não traz complexidade nas palavras, mas nas ideias que prega. Nele a autora contextualiza a realidade da mulher africana, comparada à realidade ocidental, trazendo fatos de sua vida, de amigos e familiares.

Chiamamanda traz um suspiro jovem e contemporâneo, - em tempos de “Baile de Favela” e Bolsonaro - similar a outras personalidades feministas atuais como a youtuber Jout Jout e a escritora inglesa Caitlin Moran. O livro é um presente ideal para seres humanos, dos 15 aos 100 anos.


“Se repetimos uma coisa várias vezes, ela se torna normal. Se vemos uma coisa com frequência, ela se torna normal. Se só os meninos são escolhidos como monitores da classe, então em algum momento nós todos vamos achar, mesmo que inconscientemente, que só um menino pode ser o monitor da classe. Se só homens ocupam cargos de chefia nas empresas, começamos a achar “normal” que esses cargos de chefia só sejam ocupados por homens”, eis um trecho das ideias da autora.

Colecionismo de Arquivos digitais de cultura

Não é estranho, que mesmo com tantas obras digitais gratuitas, nós ainda sentimos a necessidade de pagar por este conteúdo?

Os serviços de streaming musical – tão condenados por diversos artistas -   no mundo, já correspondem a 20% das receitas de mercado digital, mesmo todos nós sabendo que podemos encontrar gratuitamente, através de outras ferramentas, todas –ou quase todas- as músicas de nossas playlists.

David Byrne, ex líder dos Talking Heads, criticou o Spotify - serviço de streaming mais famoso- dizendo que tal serviço estava criando uma cultura de blockbusters, e que seria um desastre para os artistas contemporâneos.

No Brasil, o músico Marcelo Jeneci, que disponibilizou seu último disco gratuitamente, defende que a remuneração nesses sistemas não é bem equacionada, mas que vão se ajustar pelo caminho.

Paralelo ao crescimento do streaming, as vendas de vinil também crescem no Brasil e no mundo. Em 2014 a tradicional rede - e selo - de discos inglês, Rough Trade, abriu sua primeira filial nos Estados Unidos, no Brookling, em Nova York. Em 2015, a também inglesa rede de supermercados Tesco - a mais popular do país – voltou a vender discos de vinil em suas prateleiras. Assim também ocorreu a rede natureba hypster Whole Foods Market.

Em relação à Literatura, outro gênero artístico que propagou sua comercialização digital através de Kobos, i pads e derivados, também é reconhecida uma valorização do “produto/livro/matéria”, principalmente pelos booktubers – youtubers com canais voltados para o assunto-, nos últimos dois anos.

A editora brasileira Darkside Books, é um exemplo de negócio que surgiu de encontro com a maré digital. E ainda não publicou e books e tem como chamariz capas irresistíveis aos aficionados. Em 2014, a Biblioteca Nacional expediu apenas 1% a mais de livros digitais do que em 2013.

Qualquer alteração de comportamento, gera conflito. Enquanto consumidores, artistas e empresários não chegarem a um modelo efetivamente interessante para todos os lados, vale-se da comprovação de que não existe crise ou facilidade que impeça o desejo humano de “feudar” o que ama.



O Rock de onde não se espera

Foto retirada do perfil de Julio no Facebook
Uma das memórias mais remotas que tenho da infância, é a de um passeio de  Maria Fumaça, que fiz de Aracaju a São Cristóvão. Eu, aracajuana de na época, 5 ou 6 anos de idade, além de conhecer a quarta cidade mais antiga do Brasil, andei pela primeira vez de trem, comi queijada – doce genuinamente são cristovense e patrimônio imaterial da cidade – conheci a igreja do Senhor dos Passos e passei um número significativo de noites tendo pesadelos horríveis com as imagens do Museu de Arte Sacra.

Eu não poderia imaginar que, anos mais tarde, daquela cidade sairia um dos meus compositores favoritos. Julio Andrade, 29, vocalista e guitarrista do duo sergipano de Rock, THE BAGGIOS. Nascido e criado na minúscula São Cristóvão, geograficamente tão próxima de onde eu vivia, mas ao mesmo tempo distante em desenvolvimento, Julico, como é conhecido, sonhava em ser jogador de futebol. “Foi meu primeiro grande projeto de vida. Eu queria ser realmente jogador de futebol. Cheguei a viajar algumas vezes pra jogar com um time daqui, pra Bahia e Alagoas. E quando chegou lá pros meus 14, 15 anos, eu tava já desempolgado com essa onda e comecei a tocar violão”, desvenda seu primeiro segredo.

Diante do novo plano, descoberto aos poucos durante o Ensino Médio enquanto tocava na banda marcial do Ateneu Sergipense - o colégio público mais tradicional do estado-  Julio descartou a possibilidade de cursar o ensino superior e consumiu todo tipo de informação musical que cruzava o seu caminho. Fitas k7 dos amigos, idas a shows e assiduidade na locadora de CD - modelo de negócio que salvava a vida musical nas cidades pequenas antes da propagação da Internet . Até que comprou sua primeira guitarra com ajuda da família. “ Comprei minha primeira guitarra, e foi ali que eu falei, Véio, comprei algo que vai ser meu instrumento e que eu vou me dedicar ao máximo pra aprender e levar a sério”, conclui.

Com a guitarra em punho, ele começou a integrar bandas, mas segundo o mesmo, essas bandas nunca progrediam, porque as pessoas levavam a coisa como hobbie e ele queria viver disso. Até que entre 2004 e 2005, ele formou a THE BAGGIOS com o baterista Lucas Goo, homenageando um personagem boêmio e perturbado da cidade, o Baggio. Um homem sequelado, fã de Raul Seixas, que acreditava ter participado da Guerra do Vietnã. “Acabou que sobraram nós dois com interesse de fazer uma, coisa autoral e tocar o barco pra frente assim com música, e a gente formou a THE BAGGIOS por falta de opção com outras pessoas mesmo. A gente já tinha uma conexão musical muito forte”, explica como chegou ao primeiro parceiro oficial de banda.

A saída de Lucas em 2005, acarretou em dividir o trabalho com os bateristas Elvis Boamorte – hoje líder da banda Elvis Boamorte e os Boavida- e Gabriel Perninha, atual baggio - e na minha opinião melhor casamento.

Julio resume seus momentos em um turbilhão de emoções, como quando abriu o show dos Paralamas do Sucesso, com uma plateia de mais de 20 mil pessoas. “Ali, foi meu primeiro grande evento. Eu fiquei nervoso, mas acho que as emoções estão muito nesse processo de criação. Ouvir as críticas positivas dos álbuns, ver a reação do público nos shows fora do estado...é uma emoção muito grande. É sempre uma surpresa ver as pessoas cantando as músicas. A gente foi pro México e tinha gente pedindo música lá, saca?! É uma coisa que a gente não espera muito, mas que quando acontece, a gente vê o valor que o pessoal dá a gente e a gente acaba valorizando mais o que a gente faz, né... “, reflete na voz a necessidade de manter o seu trabalho.

O próximo “frio na barriga” a ser sentido pelo duo, será no festival Lollapalooza 2016, que acontece em São Paulo no mês de março. O convite aconteceu de forma repentina e inesperada, através de um telefonema da produção. “Através de um telefonema, o cara disse que conhecia banda, que queria a banda no line up, e contratou, Velho. Perguntou cachê e tudo”, ainda impressionado, conta Julico em tom de celebração.

“Meu sonho como banda, como músico, é me manter sempre em criação , sempre ativo, sempre querendo fazer coisas novas, cada vez mais motivado, empolgado com a música, que é algo que eu realmente amo fazer, até Deus quiser”. Saravá!



quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Rico Dalasam desmascara a alma em disco

Foto retirada do Facebook do artista
“Hoje eu tô no ouro, mas já vendi uns cobre”. É assim, com uma pegada autobiográfica, que Rico Dalasam, 26, paulista de Tobão da Serra - grande São Paulo -, apresenta-se no primeiro EP de sua carreira musical.
Intitulado MODO DIVERSO, o disco traz 6 faixas influenciadas por Rick Jay, Little Richard, Prince, Racionais e outros nomes do Rap brasileiro, como Rashid, Emicida e Projota, que assim como Rico, lançaram-se nas batalhas de MCs da estação de metrô Santa Cruz (zona sul de São Paulo), no início dos anos 2000.
Gay, negro e de origem pobre, Rico levanta as três bandeiras de forma genuína, sem forçar a barra e com classe. “Eu não fui pedir licença pra ninguém fazer nada, entendeu? Eu fiz. Esse é o Rap”, resume-se em entrevista para o canal do Estadão no Youtube.
1. Não posso esperar
Música que poderia fazer parte da trilha do Kim Kardashian Hollywood, ou de um disco do Gorillaz, conta o dia dia (ou seria noite a noite?!) da vida dos que se dividem entre baladas e a luz do Sol.
2. Deixa
Balada radiofônica, a mais negra do disco - apesar de Aceite-C trazer sampler de Daniela Mércure- tem pitadas de Afro-reggae e vocal no estilo dos grupos de pagode da década de 90, como Só Pra Contrariar.
3. Aceite-C
Com um refrão que sugere “aceite-se” e “aceite ser”, Rico embala a letra sobre sua forma de levar a vida, com batidas de bateria eletrônica que simulam as batidas do coração, um sampler de O MAIS BELO DOS BELOS de Daniela Mercury e os toques de Afro Reggae do clássico do Axé Music. Um exemplo de exaltação do negro na música brasileira.
4.Riquíssima
A melhor música do artista e uma das composições mais interessantes de 2015, é daquelas que após descoberta, vivem na nossa lista das mais ouvidas no Spotfy. Com referências a novelas (EU SOU RICAAAA!), à atriz Suzana Vieira, bebidas, ascensão social e gírias gays, serve de hino para ser desde cantada no carro com as amigas, como para descer na boquinha da garrafa.
5.Deise
“Feito um diamante quando tirado da lama, deixou aqui quem ama, porque tem alguém pra amar”. Poética e com pitadas de Reggaeton e Banda de Pífano, Deise é uma Ode a todas as meninas e mulheres que sonham em encontrar um amor e vencer na vida.
6.Reflex
Música/ manifesto/ biografia. Os samplers a la Jorge Vercilo e uma aproximação à MPB do início do século, não tiram o brilho dessa declaração do fundo do âmago.


CEP: VILA MARIANA

A intenção deste post, de início, era fazer algo turístico ou de alguma serventia para os entediados de fim de semana. Nova em São Paulo,  como uma forma de passa tempo para mim mesma, decidi escrever sobre a vida "boêmia "da Vila Mariana, mas não rolou - tarefa arquivada para breve.

Juro que saí de casa preparada, mas quer saber? Desisti. Por que falar de um único aspecto, quando eu posso contar como é viver em um dos bairros mais gostosos de São Paulo? 

Eu estou há menos de um mês sobrevivendo (tentando) em São Paulo, mas já tinha vindo pra cá tantas vezes, que perdi as contas. Engraçado, que, mesmo dominando bairros até menos explorados, não lembro de ter pisado na Vila Mariana antes do dia 08 de janeiro de 2016 - dia em que desembarquei de mala e cuia por aqui. Claro que já  conhecia o Ibirapuera – visão pela qual troquei o Rio Sergipe -, mas Vila Mariana, sinceramente, jamais!

Só pra resumir: tenho a Vila Mariana como endereço, porque a pessoa com quem vim  dividir apartamento, trabalha no bairro e decidiu facilitar a vida instalando-se por lá.

Com esse nome feminino, a Vila Mariana – tenho duas amigas lindas que se chamam Mariana - possui a maior concentração de salões de beleza e espaços de drenagem linfática que eu já vi na vida. Só na minha rua, contei 3 salões e 2 espaços de drenagem. Não poderia ser diferente, né?! Tão vaidoso, tão colorido...outro aspecto interessante, é  que a Mariana gosta de "maquiagem". Mesmo em tempos de crise, não vê-se casa, loja, prédio ou qualquer outra construção com aspecto de sujo ou descuidado. Da minha janela, por exemplo, avisto uma rua repleta de casinhas coloridas e floridas. Talvez o verde jorrado pelo Parque Ibirapuera sirva de inspiração para os moradores.

Por conta dos diversos cursos, faculdades e hospitais existentes na redondeza, as Marianas do bairro tem opções baratinhas e descoladas de compras. Brechós e pequenos ateliês de decoração fazem meu coração e carteira levar conselhos e broncas do cérebro.  Comer também não é caro. Muito menos restrito. Em um mesmo trecho, é possível ficar em dúvida entre comida natural/orgânica/ hypster/ Bela Gil, Cantina  Italiana,  pastel, padaria e hambúrguer.

E se as Marianas precisarem de ajuda para decidir onde jantar – ou com quem- o cardápio do Tinder, no bairro, deve ser mais interessantes do que o de muitas cidades brasileiras.

Mesmo não me chamando Mariana, adotei esse codinome no meu CEP.E olha...não está sendo difícil.






Retrato de uma "pernambucopaulistana"

Em busca de um personagem para escrever o perfil, enquanto meus colegas seguiram para o local onde provavelmente encontraríamos a maior concentração de histórias, ao sair do elevador, num canto quieto do térreo, avistei dois pés cansados suspensos em uma cadeira. Não vi rosto. Ao me aproximar, aos poucos apareceram as mãos com dedos frenéticos sobre o celular. Uma mulher!

Assim que me aproximei, sem ela abrir a boca, pela pele cafuza e o cabelo escorrido, bang!.Nordeste com nordeste. Precisei apenas lançar o meu “boa noite” sem chiado, que ela sorriu. Magnaci Souza – nome que sua mãe retirou de um jornal- , pernambucana de 43 anos, morando em São Paulo há 25, é uma representação do meu presente e do meu provável futuro. Eu, nordestina, sergipana, amante de Pernambuco e moradora de São Paulo há 7 dias.

“Vim pra São Paulo em busca de trabalho, de uma vida melhor, mas foi tudo ilusão”, verbaliza o desabafo guardado, com tom ensaiado, de quem repete para si mesmo enquanto escova os dentes ou penteia os cabelos. Não devo ter disfarçado os meus olhos arregalados e perguntei como estaria a vida dela hoje, mãe de três filhos, divorciada, se tivesse continuado em Recife. Sem jeito, se contradiz nas palavras, no olhar e no sorriso. “Ah! A qualidade de vida aqui é bem melhor. Trouxe meus irmãos e minha mãe. Hoje lá só tenho uma irmã. Eu fui pra lá agora pra passar 20 dias e com uma semana queria voltar. A polícia lá parece que é franquinha. Parece que os ladrões é que mandam. Eu levei meu filho de sete anos e tinha medo de andar com ele no ônibus e no metrô”, citando os meios de transporte que, segundo ela, lá estão muito evoluídos. 

Funcionária do refeitório da Belas Artes- a da rua José Antônio Coelho-  há 7 anos, Magnaci se mostra totalmente à vontade em relação à tecnologia.  Diz que mantém as amizades em Recife  através do Facebook, e que “caiu” nesse emprego por meio de um site especializado . “Às vezes penso que assim que a Belas Artes me botar pra fora, volto pro Recife. Se bem que não sei se conseguiria. Acho que minha casa já é aqui mesmo”, filosofa a recifense paulistana de Jardim Novo Santo Amaro.