quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Retrato de uma "pernambucopaulistana"

Em busca de um personagem para escrever o perfil, enquanto meus colegas seguiram para o local onde provavelmente encontraríamos a maior concentração de histórias, ao sair do elevador, num canto quieto do térreo, avistei dois pés cansados suspensos em uma cadeira. Não vi rosto. Ao me aproximar, aos poucos apareceram as mãos com dedos frenéticos sobre o celular. Uma mulher!

Assim que me aproximei, sem ela abrir a boca, pela pele cafuza e o cabelo escorrido, bang!.Nordeste com nordeste. Precisei apenas lançar o meu “boa noite” sem chiado, que ela sorriu. Magnaci Souza – nome que sua mãe retirou de um jornal- , pernambucana de 43 anos, morando em São Paulo há 25, é uma representação do meu presente e do meu provável futuro. Eu, nordestina, sergipana, amante de Pernambuco e moradora de São Paulo há 7 dias.

“Vim pra São Paulo em busca de trabalho, de uma vida melhor, mas foi tudo ilusão”, verbaliza o desabafo guardado, com tom ensaiado, de quem repete para si mesmo enquanto escova os dentes ou penteia os cabelos. Não devo ter disfarçado os meus olhos arregalados e perguntei como estaria a vida dela hoje, mãe de três filhos, divorciada, se tivesse continuado em Recife. Sem jeito, se contradiz nas palavras, no olhar e no sorriso. “Ah! A qualidade de vida aqui é bem melhor. Trouxe meus irmãos e minha mãe. Hoje lá só tenho uma irmã. Eu fui pra lá agora pra passar 20 dias e com uma semana queria voltar. A polícia lá parece que é franquinha. Parece que os ladrões é que mandam. Eu levei meu filho de sete anos e tinha medo de andar com ele no ônibus e no metrô”, citando os meios de transporte que, segundo ela, lá estão muito evoluídos. 

Funcionária do refeitório da Belas Artes- a da rua José Antônio Coelho-  há 7 anos, Magnaci se mostra totalmente à vontade em relação à tecnologia.  Diz que mantém as amizades em Recife  através do Facebook, e que “caiu” nesse emprego por meio de um site especializado . “Às vezes penso que assim que a Belas Artes me botar pra fora, volto pro Recife. Se bem que não sei se conseguiria. Acho que minha casa já é aqui mesmo”, filosofa a recifense paulistana de Jardim Novo Santo Amaro.


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