Em
busca de um personagem para escrever o perfil, enquanto meus colegas seguiram
para o local onde provavelmente encontraríamos a maior concentração de
histórias, ao sair do elevador, num canto quieto do térreo, avistei dois pés
cansados suspensos em uma cadeira. Não vi rosto. Ao me aproximar, aos poucos
apareceram as mãos com dedos frenéticos sobre o celular. Uma mulher!
Assim
que me aproximei, sem ela abrir a boca, pela pele cafuza e o cabelo escorrido, bang!.Nordeste com nordeste. Precisei
apenas lançar o meu “boa noite” sem chiado, que ela sorriu. Magnaci Souza –
nome que sua mãe retirou de um jornal- , pernambucana de 43 anos, morando em
São Paulo há 25, é uma representação do meu presente e do meu provável futuro.
Eu, nordestina, sergipana, amante de Pernambuco e moradora de São Paulo há 7
dias.
“Vim
pra São Paulo em busca de trabalho, de uma vida melhor, mas foi tudo ilusão”,
verbaliza o desabafo guardado, com tom ensaiado, de quem repete para si mesmo
enquanto escova os dentes ou penteia os cabelos. Não devo ter disfarçado os
meus olhos arregalados e perguntei como estaria a vida dela hoje, mãe de três
filhos, divorciada, se tivesse continuado em Recife. Sem jeito, se contradiz
nas palavras, no olhar e no sorriso. “Ah! A qualidade de vida aqui é bem
melhor. Trouxe meus irmãos e minha mãe. Hoje lá só tenho uma irmã. Eu fui pra
lá agora pra passar 20 dias e com uma semana queria voltar. A polícia lá parece
que é franquinha. Parece que os ladrões é que mandam. Eu levei meu filho de
sete anos e tinha medo de andar com ele no ônibus e no metrô”, citando os meios
de transporte que, segundo ela, lá estão muito evoluídos.
Funcionária
do refeitório da Belas Artes- a da rua José Antônio Coelho- há 7 anos, Magnaci se mostra totalmente à vontade
em relação à tecnologia. Diz que mantém
as amizades em Recife através do Facebook, e que “caiu” nesse emprego
por meio de um site especializado . “Às vezes penso que assim que a
Belas Artes me botar pra fora, volto pro Recife. Se bem que não sei se
conseguiria. Acho que minha casa já é aqui mesmo”, filosofa a recifense paulistana de Jardim Novo Santo Amaro.
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