sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O Rock de onde não se espera

Foto retirada do perfil de Julio no Facebook
Uma das memórias mais remotas que tenho da infância, é a de um passeio de  Maria Fumaça, que fiz de Aracaju a São Cristóvão. Eu, aracajuana de na época, 5 ou 6 anos de idade, além de conhecer a quarta cidade mais antiga do Brasil, andei pela primeira vez de trem, comi queijada – doce genuinamente são cristovense e patrimônio imaterial da cidade – conheci a igreja do Senhor dos Passos e passei um número significativo de noites tendo pesadelos horríveis com as imagens do Museu de Arte Sacra.

Eu não poderia imaginar que, anos mais tarde, daquela cidade sairia um dos meus compositores favoritos. Julio Andrade, 29, vocalista e guitarrista do duo sergipano de Rock, THE BAGGIOS. Nascido e criado na minúscula São Cristóvão, geograficamente tão próxima de onde eu vivia, mas ao mesmo tempo distante em desenvolvimento, Julico, como é conhecido, sonhava em ser jogador de futebol. “Foi meu primeiro grande projeto de vida. Eu queria ser realmente jogador de futebol. Cheguei a viajar algumas vezes pra jogar com um time daqui, pra Bahia e Alagoas. E quando chegou lá pros meus 14, 15 anos, eu tava já desempolgado com essa onda e comecei a tocar violão”, desvenda seu primeiro segredo.

Diante do novo plano, descoberto aos poucos durante o Ensino Médio enquanto tocava na banda marcial do Ateneu Sergipense - o colégio público mais tradicional do estado-  Julio descartou a possibilidade de cursar o ensino superior e consumiu todo tipo de informação musical que cruzava o seu caminho. Fitas k7 dos amigos, idas a shows e assiduidade na locadora de CD - modelo de negócio que salvava a vida musical nas cidades pequenas antes da propagação da Internet . Até que comprou sua primeira guitarra com ajuda da família. “ Comprei minha primeira guitarra, e foi ali que eu falei, Véio, comprei algo que vai ser meu instrumento e que eu vou me dedicar ao máximo pra aprender e levar a sério”, conclui.

Com a guitarra em punho, ele começou a integrar bandas, mas segundo o mesmo, essas bandas nunca progrediam, porque as pessoas levavam a coisa como hobbie e ele queria viver disso. Até que entre 2004 e 2005, ele formou a THE BAGGIOS com o baterista Lucas Goo, homenageando um personagem boêmio e perturbado da cidade, o Baggio. Um homem sequelado, fã de Raul Seixas, que acreditava ter participado da Guerra do Vietnã. “Acabou que sobraram nós dois com interesse de fazer uma, coisa autoral e tocar o barco pra frente assim com música, e a gente formou a THE BAGGIOS por falta de opção com outras pessoas mesmo. A gente já tinha uma conexão musical muito forte”, explica como chegou ao primeiro parceiro oficial de banda.

A saída de Lucas em 2005, acarretou em dividir o trabalho com os bateristas Elvis Boamorte – hoje líder da banda Elvis Boamorte e os Boavida- e Gabriel Perninha, atual baggio - e na minha opinião melhor casamento.

Julio resume seus momentos em um turbilhão de emoções, como quando abriu o show dos Paralamas do Sucesso, com uma plateia de mais de 20 mil pessoas. “Ali, foi meu primeiro grande evento. Eu fiquei nervoso, mas acho que as emoções estão muito nesse processo de criação. Ouvir as críticas positivas dos álbuns, ver a reação do público nos shows fora do estado...é uma emoção muito grande. É sempre uma surpresa ver as pessoas cantando as músicas. A gente foi pro México e tinha gente pedindo música lá, saca?! É uma coisa que a gente não espera muito, mas que quando acontece, a gente vê o valor que o pessoal dá a gente e a gente acaba valorizando mais o que a gente faz, né... “, reflete na voz a necessidade de manter o seu trabalho.

O próximo “frio na barriga” a ser sentido pelo duo, será no festival Lollapalooza 2016, que acontece em São Paulo no mês de março. O convite aconteceu de forma repentina e inesperada, através de um telefonema da produção. “Através de um telefonema, o cara disse que conhecia banda, que queria a banda no line up, e contratou, Velho. Perguntou cachê e tudo”, ainda impressionado, conta Julico em tom de celebração.

“Meu sonho como banda, como músico, é me manter sempre em criação , sempre ativo, sempre querendo fazer coisas novas, cada vez mais motivado, empolgado com a música, que é algo que eu realmente amo fazer, até Deus quiser”. Saravá!



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