sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Sejamos todos feministas

Se você já ouviu a música Flawless, da cantora Beyoncé, percebe que no meio da música super dançante, existe um discurso, também dito por uma voz feminina e, se entender inglês, também feminista.

Inspiração para a composição de Beyoncé, o discurso e a voz em questão, são da escritora nigeriana Chiamamanda Ngozi Adichie, 39, nascida em Abba - no estado de Anambra –  autora de 4 livros, além do recém publicado SEJAMOS TODOS FEMINISTAS, que chegou ao Brasil em 2015, através da editora Companhia das Letras.

Curto, com penas 63 páginas, o livro é a transcrição da apresentação de Chiamamanda no TEDxEuston em 2012 – TED, abreviação de Technology, Entertainment, Design; em português: Tecnologia, Entretenimento, Design, é um  evento que surgiu na década de 1990, e acontece em diversos países, propagando ideias que devem ser discutidas em grande escala.

Uma vez que o evento consiste em palestras rápidas e de fácil entendimento, o livro não traz complexidade nas palavras, mas nas ideias que prega. Nele a autora contextualiza a realidade da mulher africana, comparada à realidade ocidental, trazendo fatos de sua vida, de amigos e familiares.

Chiamamanda traz um suspiro jovem e contemporâneo, - em tempos de “Baile de Favela” e Bolsonaro - similar a outras personalidades feministas atuais como a youtuber Jout Jout e a escritora inglesa Caitlin Moran. O livro é um presente ideal para seres humanos, dos 15 aos 100 anos.


“Se repetimos uma coisa várias vezes, ela se torna normal. Se vemos uma coisa com frequência, ela se torna normal. Se só os meninos são escolhidos como monitores da classe, então em algum momento nós todos vamos achar, mesmo que inconscientemente, que só um menino pode ser o monitor da classe. Se só homens ocupam cargos de chefia nas empresas, começamos a achar “normal” que esses cargos de chefia só sejam ocupados por homens”, eis um trecho das ideias da autora.

Colecionismo de Arquivos digitais de cultura

Não é estranho, que mesmo com tantas obras digitais gratuitas, nós ainda sentimos a necessidade de pagar por este conteúdo?

Os serviços de streaming musical – tão condenados por diversos artistas -   no mundo, já correspondem a 20% das receitas de mercado digital, mesmo todos nós sabendo que podemos encontrar gratuitamente, através de outras ferramentas, todas –ou quase todas- as músicas de nossas playlists.

David Byrne, ex líder dos Talking Heads, criticou o Spotify - serviço de streaming mais famoso- dizendo que tal serviço estava criando uma cultura de blockbusters, e que seria um desastre para os artistas contemporâneos.

No Brasil, o músico Marcelo Jeneci, que disponibilizou seu último disco gratuitamente, defende que a remuneração nesses sistemas não é bem equacionada, mas que vão se ajustar pelo caminho.

Paralelo ao crescimento do streaming, as vendas de vinil também crescem no Brasil e no mundo. Em 2014 a tradicional rede - e selo - de discos inglês, Rough Trade, abriu sua primeira filial nos Estados Unidos, no Brookling, em Nova York. Em 2015, a também inglesa rede de supermercados Tesco - a mais popular do país – voltou a vender discos de vinil em suas prateleiras. Assim também ocorreu a rede natureba hypster Whole Foods Market.

Em relação à Literatura, outro gênero artístico que propagou sua comercialização digital através de Kobos, i pads e derivados, também é reconhecida uma valorização do “produto/livro/matéria”, principalmente pelos booktubers – youtubers com canais voltados para o assunto-, nos últimos dois anos.

A editora brasileira Darkside Books, é um exemplo de negócio que surgiu de encontro com a maré digital. E ainda não publicou e books e tem como chamariz capas irresistíveis aos aficionados. Em 2014, a Biblioteca Nacional expediu apenas 1% a mais de livros digitais do que em 2013.

Qualquer alteração de comportamento, gera conflito. Enquanto consumidores, artistas e empresários não chegarem a um modelo efetivamente interessante para todos os lados, vale-se da comprovação de que não existe crise ou facilidade que impeça o desejo humano de “feudar” o que ama.



O Rock de onde não se espera

Foto retirada do perfil de Julio no Facebook
Uma das memórias mais remotas que tenho da infância, é a de um passeio de  Maria Fumaça, que fiz de Aracaju a São Cristóvão. Eu, aracajuana de na época, 5 ou 6 anos de idade, além de conhecer a quarta cidade mais antiga do Brasil, andei pela primeira vez de trem, comi queijada – doce genuinamente são cristovense e patrimônio imaterial da cidade – conheci a igreja do Senhor dos Passos e passei um número significativo de noites tendo pesadelos horríveis com as imagens do Museu de Arte Sacra.

Eu não poderia imaginar que, anos mais tarde, daquela cidade sairia um dos meus compositores favoritos. Julio Andrade, 29, vocalista e guitarrista do duo sergipano de Rock, THE BAGGIOS. Nascido e criado na minúscula São Cristóvão, geograficamente tão próxima de onde eu vivia, mas ao mesmo tempo distante em desenvolvimento, Julico, como é conhecido, sonhava em ser jogador de futebol. “Foi meu primeiro grande projeto de vida. Eu queria ser realmente jogador de futebol. Cheguei a viajar algumas vezes pra jogar com um time daqui, pra Bahia e Alagoas. E quando chegou lá pros meus 14, 15 anos, eu tava já desempolgado com essa onda e comecei a tocar violão”, desvenda seu primeiro segredo.

Diante do novo plano, descoberto aos poucos durante o Ensino Médio enquanto tocava na banda marcial do Ateneu Sergipense - o colégio público mais tradicional do estado-  Julio descartou a possibilidade de cursar o ensino superior e consumiu todo tipo de informação musical que cruzava o seu caminho. Fitas k7 dos amigos, idas a shows e assiduidade na locadora de CD - modelo de negócio que salvava a vida musical nas cidades pequenas antes da propagação da Internet . Até que comprou sua primeira guitarra com ajuda da família. “ Comprei minha primeira guitarra, e foi ali que eu falei, Véio, comprei algo que vai ser meu instrumento e que eu vou me dedicar ao máximo pra aprender e levar a sério”, conclui.

Com a guitarra em punho, ele começou a integrar bandas, mas segundo o mesmo, essas bandas nunca progrediam, porque as pessoas levavam a coisa como hobbie e ele queria viver disso. Até que entre 2004 e 2005, ele formou a THE BAGGIOS com o baterista Lucas Goo, homenageando um personagem boêmio e perturbado da cidade, o Baggio. Um homem sequelado, fã de Raul Seixas, que acreditava ter participado da Guerra do Vietnã. “Acabou que sobraram nós dois com interesse de fazer uma, coisa autoral e tocar o barco pra frente assim com música, e a gente formou a THE BAGGIOS por falta de opção com outras pessoas mesmo. A gente já tinha uma conexão musical muito forte”, explica como chegou ao primeiro parceiro oficial de banda.

A saída de Lucas em 2005, acarretou em dividir o trabalho com os bateristas Elvis Boamorte – hoje líder da banda Elvis Boamorte e os Boavida- e Gabriel Perninha, atual baggio - e na minha opinião melhor casamento.

Julio resume seus momentos em um turbilhão de emoções, como quando abriu o show dos Paralamas do Sucesso, com uma plateia de mais de 20 mil pessoas. “Ali, foi meu primeiro grande evento. Eu fiquei nervoso, mas acho que as emoções estão muito nesse processo de criação. Ouvir as críticas positivas dos álbuns, ver a reação do público nos shows fora do estado...é uma emoção muito grande. É sempre uma surpresa ver as pessoas cantando as músicas. A gente foi pro México e tinha gente pedindo música lá, saca?! É uma coisa que a gente não espera muito, mas que quando acontece, a gente vê o valor que o pessoal dá a gente e a gente acaba valorizando mais o que a gente faz, né... “, reflete na voz a necessidade de manter o seu trabalho.

O próximo “frio na barriga” a ser sentido pelo duo, será no festival Lollapalooza 2016, que acontece em São Paulo no mês de março. O convite aconteceu de forma repentina e inesperada, através de um telefonema da produção. “Através de um telefonema, o cara disse que conhecia banda, que queria a banda no line up, e contratou, Velho. Perguntou cachê e tudo”, ainda impressionado, conta Julico em tom de celebração.

“Meu sonho como banda, como músico, é me manter sempre em criação , sempre ativo, sempre querendo fazer coisas novas, cada vez mais motivado, empolgado com a música, que é algo que eu realmente amo fazer, até Deus quiser”. Saravá!