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Foto retirada do perfil de Julio no Facebook |
Uma
das memórias mais remotas que tenho da infância, é a de um passeio de Maria Fumaça, que fiz de Aracaju a São
Cristóvão. Eu, aracajuana de na época, 5 ou 6 anos de idade, além de conhecer a
quarta cidade mais antiga do Brasil, andei pela primeira vez de trem, comi
queijada – doce genuinamente são cristovense e patrimônio imaterial da cidade –
conheci a igreja do Senhor dos Passos e passei um número significativo de noites
tendo pesadelos horríveis com as imagens do Museu de Arte Sacra.
Eu
não poderia imaginar que, anos mais tarde, daquela cidade sairia um dos meus
compositores favoritos. Julio Andrade, 29, vocalista e guitarrista do duo sergipano
de Rock, THE BAGGIOS. Nascido e criado na minúscula São Cristóvão, geograficamente
tão próxima de onde eu vivia, mas ao mesmo tempo distante em desenvolvimento,
Julico, como é conhecido, sonhava em ser jogador de futebol. “Foi meu primeiro
grande projeto de vida. Eu queria ser realmente jogador de futebol. Cheguei a
viajar algumas vezes pra jogar com um time daqui, pra Bahia e Alagoas. E quando
chegou lá pros meus 14, 15 anos, eu tava já desempolgado com essa onda e
comecei a tocar violão”, desvenda seu primeiro segredo.
Diante
do novo plano, descoberto aos poucos durante o Ensino Médio enquanto tocava na banda
marcial do Ateneu Sergipense - o colégio público mais tradicional do
estado- Julio descartou a possibilidade
de cursar o ensino superior e consumiu todo tipo de informação musical que
cruzava o seu caminho. Fitas k7 dos amigos, idas a shows e assiduidade na
locadora de CD - modelo de negócio que salvava a vida musical nas cidades
pequenas antes da propagação da Internet . Até que comprou sua primeira
guitarra com ajuda da família. “ Comprei minha
primeira guitarra, e foi ali que eu falei, Véio, comprei algo que vai ser meu
instrumento e que eu vou me dedicar ao máximo pra aprender e levar a sério”, conclui.
Com
a guitarra em punho, ele começou a integrar bandas, mas segundo o mesmo, essas
bandas nunca progrediam, porque as pessoas levavam a coisa como hobbie e ele
queria viver disso. Até que entre 2004 e 2005, ele formou a THE BAGGIOS com o
baterista Lucas Goo, homenageando um personagem boêmio e perturbado da cidade,
o Baggio. Um homem sequelado, fã de Raul Seixas, que acreditava ter participado
da Guerra do Vietnã. “Acabou que sobraram nós dois com interesse de fazer uma,
coisa autoral e tocar o barco pra frente assim com música, e a gente formou a
THE BAGGIOS por falta de opção com outras pessoas mesmo. A gente já tinha uma
conexão musical muito forte”, explica como chegou ao primeiro parceiro oficial
de banda.
A
saída de Lucas em 2005, acarretou em dividir o trabalho com os bateristas Elvis
Boamorte – hoje líder da banda Elvis Boamorte e os Boavida- e Gabriel Perninha,
atual baggio - e na minha opinião melhor casamento.
Julio
resume seus momentos em um turbilhão de emoções, como quando abriu o show dos
Paralamas do Sucesso, com uma plateia de mais de 20 mil pessoas. “Ali, foi meu
primeiro grande evento. Eu fiquei nervoso, mas acho que as emoções estão muito
nesse processo de criação. Ouvir as críticas positivas dos álbuns, ver a reação
do público nos shows fora do estado...é uma emoção muito grande. É sempre uma
surpresa ver as pessoas cantando as músicas. A gente foi pro México e tinha
gente pedindo música lá, saca?! É uma coisa que a gente não espera muito, mas
que quando acontece, a gente vê o valor que o pessoal dá a gente e a gente
acaba valorizando mais o que a gente faz, né... “, reflete na voz a necessidade
de manter o seu trabalho.
O
próximo “frio na barriga” a ser sentido pelo duo, será no festival Lollapalooza
2016, que acontece em São Paulo no mês de março. O convite aconteceu de forma
repentina e inesperada, através de um telefonema da produção. “Através de um
telefonema, o cara disse que conhecia banda, que queria a banda no line up, e
contratou, Velho. Perguntou cachê e tudo”, ainda impressionado, conta Julico em
tom de celebração.
“Meu
sonho como banda, como músico, é me manter sempre em criação , sempre ativo,
sempre querendo fazer coisas novas, cada vez mais motivado, empolgado com a
música, que é algo que eu realmente amo fazer, até Deus quiser”. Saravá!